Conceição
Evaristo
A
voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A
voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A
voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A
minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A
voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A
voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
In Cadernos Negros, vol. 13, São Paulo, 1990.
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