Rubens de Souza
Segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais, a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade se fundamentam na crítica de uma concepção que toma a
realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer
isento e distanciado. Diferem uma da outra no sentido de que a
interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de
conhecimento, questionando a segmentação entre os diferentes campos do saber
produzida por uma visão compartimentada (disciplinar), que apenas informa sobre
a realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se
constituiu. Já a transversalidade refere-se a uma abordagem pedagógica que
possibilite ao aluno uma visão ampla e consistente da realidade brasileira e
sua inserção no mundo bem como sua participação.
Portanto, caberá
ao professor posicionar-se em relação às questões sociais e trazer para o
momento da aula a realidade, a partir das atividades educativas.
A maneira como a
escola aborda a pluralidade cultural (etnia, credo, costumes, regionalismo,
valores e outros aspectos) identifica uma preferência e revela a grande dificuldade
em se abordar a religiosidade dos estudantes, principalmente quando se mencionam
as religiões afro-brasileiras e quando surgem algumas questões, como:
O que são as
religiões afro-brasileiras?
O que cultuam
seus praticantes?
A história do
Brasil registra que o candomblé e a umbanda são religiões originárias de
segmentos marginalizados em nossa sociedade (negros e pobres em geral) que,
conseqüentemente, foram perseguidos durante muito tempo; por isso, há poucos
documentos sobre elas. No período colonial, os cultos afro brasileiros eram
tidos como práticas de bruxarias, curandeirismo, charlatanismo etc. Outros
aspectos que dificultam as coletas de dados das religiões afro-brasileiras são:
elas não têm livro sagrado, como a Bíblia; os terreiros são autônomos, cada
chefe de terreiro é a autoridade máxima de sua comunidade; o culto religioso de
transe e de prática de sacrifício de animais torna-se diferente de outros
cultos religiosos e já foram confundidos como festas e danças, apenas.
Vale lembrar que
nas escolas, a religião afro-brasileira não desfrutou do prestígio que o
catolicismo tem, fazendo parte do conteúdo de algumas disciplinas oficiais ou
matéria de estudo do ensino religioso facultativo. Por vezes, o candomblé e a umbanda
são associados à magia negra e a práticas diabólicas.
Portanto, para
que esse tema possa ser abordado em sala de aula, faz-se necessária uma
criteriosa análise investigativa, isenta de avaliações que qualifiquem as
religiões como “superiores” ou “inferiores”, “certas” ou “erradas”, “do bem” ou
“do mal”.
Para almejar uma
educação capaz de contribuir para a formação dos alunos, dotando-os de
consciência social e de responsabilidade histórica, um caminho para o professor
é verificar as semelhanças entre o culto do catolicismo e o das religiões de
origem africana e indígena, que resultaram no sincretismo que originou as
religiões afro-brasileiras. Todas as crenças prevêem a fé, adorações aos seres invisíveis
e ao simbólico e estão relacionadas a experiências sociais do ser humano. Assim,
as religiões engendram instâncias políticas, econômicas e sociais. Nesse
sentido, que atividades podem ser realizadas com alunos do Ensino Fundamental? Várias
são possíveis. Entre elas, sugerimos o desenho, para que as cores, os elementos
e toda a representação visual (instrumentos musicais, vestimentas, adereços,
local etc.) possam ser pesquisados pelos alunos. Um caminho possível seria o
seguinte:
Desenvolvimento
do tema: Religião Afro-brasileira
|
|
Estudo
da realidade
|
Levantamento
de dados sobre as religiões
afro-brasileira
existentes no Brasil.
|
O
que fazer?
|
Identificar
suas origens.
|
Para
que fazer?
|
Correlacioná-las
com fatos históricos.
|
Como
fazer?
|
Entrevistas e
levantamento
bibliográfico
|
Diagnóstico
e resultados
|
Exposição dos
resultados
conquistados
pelos estudantes.
|
A partir da
pesquisa elaborada, é possível desenvolver com os alunos uma história em
quadrinhos, de modo que seja possível aproveitar mais essa atividade para
refletir sobre as religiões afro-brasileiras. .
Histórias em
quadrinhos (HQ), quadrinhos ou gibis são uma manifestação artística que conjuga
texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados tipos e
estilos.
A história em
quadrinhos baseia-se no cinema para estabelecer alguns critérios gráficos em
sua composição. Ou seja, com o cinema moderno, algumas posições no momento da
filmagem são vastamente feitas. A história em quadrinhos utiliza se desse
recurso para compor sua narrativa.
Os principais
elementos da história em quadrinhos são quadros, recursos gráficos, onomatopéia
e balões.
Os quadros não
têm tamanhos definidos. A onomatopéia identifica o som de algumas ações e
oferece ao leitor a ilusão do barulho. Os balões servem para identificar as
falas e diálogos entre as personagens. Normalmente são escritos com letra
bastão.
Bibliografia
GONÇALVES DA
SILVA,
Vagner. O Candomblé na Cidade. Tradição e Renovação. São Paulo.
FFLCH/USP. Dissertação de Mestrado, 1992.
“O candomblé no Brasil - A
tradição oral diante do saber escrito”. In: STUDIA AFRICANA - Publicação do Centre D’
Estudos Africanos - Barcelona, n.4, febrer, 1993.
HOORNAERT, Eduardo. Formação
do catolicismo brasileiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.
MORAIS FILHO, Melo. Festas
e tradições populares do Brasil. São Paulo:
Itatiaia/EDUSP, 1979.
SOUZA, Laura de Mello e
Souza. O Diabo na Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.
SPIX, Johann von & MARTIUS,
Carl F. P. von. Viagem
pelo Brasil. São
Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1981.
*Rubens de Souza
é
coordenador pedagógico, professor da rede pública estadual de São Paulo e professor
universitário.
www. gruhbaspe.com.br
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