terça-feira, 23 de outubro de 2012

AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS EM SALA DE AULA: UMA ABORDAGEM





Rubens de Souza

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade se fundamentam na crítica de uma concepção que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Diferem uma da outra no sentido de que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, questionando a segmentação entre os diferentes campos do saber produzida por uma visão compartimentada (disciplinar), que apenas informa sobre a realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Já a transversalidade refere-se a uma abordagem pedagógica que possibilite ao aluno uma visão ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserção no mundo bem como sua participação.
Portanto, caberá ao professor posicionar-se em relação às questões sociais e trazer para o momento da aula a realidade, a partir das atividades educativas.
A maneira como a escola aborda a pluralidade cultural (etnia, credo, costumes, regionalismo, valores e outros aspectos) identifica uma preferência e revela a grande dificuldade em se abordar a religiosidade dos estudantes, principalmente quando se mencionam as religiões afro-brasileiras e quando surgem algumas questões, como:
O que são as religiões afro-brasileiras?
O que cultuam seus praticantes?
A história do Brasil registra que o candomblé e a umbanda são religiões originárias de segmentos marginalizados em nossa sociedade (negros e pobres em geral) que, conseqüentemente, foram perseguidos durante muito tempo; por isso, há poucos documentos sobre elas. No período colonial, os cultos afro brasileiros eram tidos como práticas de bruxarias, curandeirismo, charlatanismo etc. Outros aspectos que dificultam as coletas de dados das religiões afro-brasileiras são: elas não têm livro sagrado, como a Bíblia; os terreiros são autônomos, cada chefe de terreiro é a autoridade máxima de sua comunidade; o culto religioso de transe e de prática de sacrifício de animais torna-se diferente de outros cultos religiosos e já foram confundidos como festas e danças, apenas.
Vale lembrar que nas escolas, a religião afro-brasileira não desfrutou do prestígio que o catolicismo tem, fazendo parte do conteúdo de algumas disciplinas oficiais ou matéria de estudo do ensino religioso facultativo. Por vezes, o candomblé e a umbanda são associados à magia negra e a práticas diabólicas.
Portanto, para que esse tema possa ser abordado em sala de aula, faz-se necessária uma criteriosa análise investigativa, isenta de avaliações que qualifiquem as religiões como “superiores” ou “inferiores”, “certas” ou “erradas”, “do bem” ou “do mal”.
Para almejar uma educação capaz de contribuir para a formação dos alunos, dotando-os de consciência social e de responsabilidade histórica, um caminho para o professor é verificar as semelhanças entre o culto do catolicismo e o das religiões de origem africana e indígena, que resultaram no sincretismo que originou as religiões afro-brasileiras. Todas as crenças prevêem a fé, adorações aos seres invisíveis e ao simbólico e estão relacionadas a experiências sociais do ser humano. Assim, as religiões engendram instâncias políticas, econômicas e sociais. Nesse sentido, que atividades podem ser realizadas com alunos do Ensino Fundamental? Várias são possíveis. Entre elas, sugerimos o desenho, para que as cores, os elementos e toda a representação visual (instrumentos musicais, vestimentas, adereços, local etc.) possam ser pesquisados pelos alunos. Um caminho possível seria o seguinte:


Desenvolvimento do tema: Religião Afro-brasileira
Estudo da realidade
Levantamento de dados sobre as religiões
afro-brasileira existentes no Brasil.
O que fazer?
Identificar suas origens.
Para que fazer?
Correlacioná-las com fatos históricos.
Como fazer?
Entrevistas e levantamento
bibliográfico
Diagnóstico e resultados
Exposição dos resultados
conquistados pelos estudantes.
  

A partir da pesquisa elaborada, é possível desenvolver com os alunos uma história em quadrinhos, de modo que seja possível aproveitar mais essa atividade para refletir sobre as religiões afro-brasileiras. .
Histórias em quadrinhos (HQ), quadrinhos ou gibis são uma manifestação artística que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados tipos e estilos.
A história em quadrinhos baseia-se no cinema para estabelecer alguns critérios gráficos em sua composição. Ou seja, com o cinema moderno, algumas posições no momento da filmagem são vastamente feitas. A história em quadrinhos utiliza se desse recurso para compor sua narrativa.
Os principais elementos da história em quadrinhos são quadros, recursos gráficos, onomatopéia e balões.
Os quadros não têm tamanhos definidos. A onomatopéia identifica o som de algumas ações e oferece ao leitor a ilusão do barulho. Os balões servem para identificar as falas e diálogos entre as personagens. Normalmente são escritos com letra bastão.

Bibliografia
GONÇALVES DA SILVA, Vagner. O Candomblé na Cidade. Tradição e Renovação. São Paulo. FFLCH/USP. Dissertação de Mestrado, 1992.
“O candomblé no Brasil - A tradição oral diante do saber escrito”. In: STUDIA  AFRICANA - Publicação do Centre D’ Estudos Africanos - Barcelona, n.4, febrer, 1993.
HOORNAERT, Eduardo. Formação do catolicismo brasileiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.
MORAIS FILHO, Melo. Festas e tradições populares do Brasil. São Paulo:  Itatiaia/EDUSP, 1979.
SOUZA, Laura de Mello e Souza. O Diabo na Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
SPIX, Johann von & MARTIUS, Carl F. P. von. Viagem pelo Brasil. São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1981.

*Rubens de Souza é coordenador pedagógico, professor da rede pública estadual de São Paulo e professor universitário.

www. gruhbaspe.com.br



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