segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A MORTE COMO PASSAGEM FESTIVA

Na matriz africana, a morte tem um valor essencialmente comunitário. Essa distinta ex­pressão do universo religioso e edificada a partir da própria cultura, onde o indivíduo e a sua co­munidade estão em perfeita simbiose.
Nas diferentes expressões, principalmente da África subsaariana, a morte não é vista como fim, um esvaziamento do indivíduo em relação àqui­lo que ele foi, nem é uma entidade que rouba a vida, entregando o defunto a um nada. Ela é uma mudança de vida, uma passagem para a grande Comunidade dos Viventes Invisíveis, em que o falecido passa a interceder por cada homem ou mulher, tornando-se eterno protetor ou, como é mais conhecido, membro do grupo de ancestrais.
Contudo, a morte, na matriz religiosa africana, também é causa de tristeza, de "desordem", por conta da ausência de uma pessoa querida à Comu­nidade dos Viventes Visíveis. Os ritos funerários servem justamente para contornar simbolicamen­te a desordem e restaurar o equilíbrio emocional do grupo abalado pela morte.
As diferentes tradições exigem que se façam cerimônias para acompanhar a pessoa falecida à comunidade dos ancestrais. Os rituais variam de acordo com a etnia do defunto e com cada tradição religiosa, mas as músicas e danças são elementos necessários, além de um momento de vigília e oração.
Mesmo que seja aparentemente festivo, ou foi clórico, o funeral de matriz africana não exprime a alegria pela morte de um membro da comunidade, mas é uma tentativa de transformar a dor e o so­frimento pela perda, em gestos de amizade e afeto que acompanham o defunto. O morto "impuro e perigoso" é transformado em ancestral protetor e reverenciado. A morte é transformada em vida.

Na tradição animista africana prevalece o culto a três grandes divindades: o firmamento, a terra e os ancestrais.
Na vida cotidiana, o elemento primor­dial é o culto aos ancestrais. Eles habitam urn mundo misterioso, chamado de "Aldeia da verdade", que se contrapõe à "Aldeia da terra e das aparências", lugar onde as pes­soas vivem na mentira e se enganam mutuamente.
Na vida do Além, os ancestrais estão bem unidos e a Aldeia da verdade é um lugar em que é forte o verdadeiro espírito de família, local de onde brota a vida.
Os nativos dessa tradição religiosa acre­ditam que os ancestrais estão presentes nas aldeias e que se comunicam continuamente com eles, podendo ser convocados em caso de necessidade.
Após a partida de um defunto, sempre fica sobre a aldeia certa inquietude e as pes­soas se perguntam sobre aquilo que o mor­to irá dizer aos ancestrais. Se, depois de um funeral, houver uma série de mortes, todos irão se referir à vingança dos ancestrais. Se o falecido faz um excelente "relatório" aos ancestrais, a felicidade, saúde e harmonia reinarão entre os vivos da aldeia.

A morte nas religiões afro-brasileiras

Os iorubás, um dos maiores grupos étnicos da África ocidental, e outros grupos africanos que formaram a base cultural das religiões afro-brasileiras, acreditam que a vida e a morte alternam-se em ciclos. Assim, o morto volta ao mundo dos vivos, reencarnando-se em um novo membro da própria família. São muitos os nomes iorubás que exprimem exatamente esse retorno, como babatundê, que quer dizer "O pai está de volta".

O aiê e o orum

Para os iorubás, existe o mundo dos vivos, o aiê, e um mundo sobrenatural, o orum, onde estão os orixás, outras divindades e espíritos. Quando alguém morre, seu espírito ou parte dele vai para o orum, de onde pode retornar ao aiê, nascendo de novo. Não há julgamento após a morte e os espíritos retornam à vida quando podem, pois o mundo ideal é o dos vivos, o bom é viver.

O egungum

O papel do egungum, espírito ancestral de uma pessoa importante no controle da moralidade do grupo e na manutenção do equilíbrio social atra­vés da solução de pendências e disputas pessoais, infelizmente, não se reproduziu no Brasil. Embo­ra o culto ao egungum tenha sido reconstituído em poucos terreiros especializados da Bahia, ele está muito distante da prática diária dos candomblés de orixás, perdendo as funções sociais africanas originais e se desenvolvendo em maneira estrita­mente ritual.

Proposta de atividade: A morte de qualquer membro do Candomblé implica na realização de ri­tuais fúnebres chamados Asèsè, cuja finalidade é desfazer o assentamento do Ori, primeiro Orixá a ser louvado, e os vínculos com o orixá pessoal. Na tabela abaixo, seis orixás participam do Asèsè. Professor, convide os alunos a completá-la, identificando qual a função de cada divindade.

Oyá

Nanã

Omolu

Ogum

Osumaré

Yewá


Fontes: Revista Mundo e Missão, 2004. Artigo disponível em: http://migre.me/c88J9. BAMGBOSE OBITICÔ, Blog dedicado à família de grande tradição em nosso culto Afro-Descendente. Disponível em: http://migre.me/c88Rx.

Jornal O transcendente


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