Na matriz africana,
a morte tem um valor essencialmente comunitário. Essa distinta expressão do
universo religioso e edificada a partir da própria cultura, onde o indivíduo e
a sua comunidade estão em perfeita simbiose.
Nas
diferentes expressões, principalmente da África subsaariana, a morte não é
vista como fim, um esvaziamento do indivíduo em relação àquilo que ele foi,
nem é uma entidade que rouba a vida, entregando o defunto a um nada. Ela é uma
mudança de vida, uma passagem para a grande Comunidade dos Viventes Invisíveis,
em que o falecido passa a interceder por cada homem ou mulher, tornando-se
eterno protetor ou, como é mais conhecido, membro do grupo de ancestrais.
Contudo,
a morte, na matriz religiosa africana, também é causa de tristeza, de
"desordem", por conta da ausência de uma pessoa querida à Comunidade
dos Viventes Visíveis. Os ritos funerários servem justamente para contornar
simbolicamente a desordem e restaurar o equilíbrio emocional do grupo abalado pela
morte.
As
diferentes tradições exigem que se façam cerimônias para acompanhar a pessoa
falecida à comunidade dos ancestrais. Os rituais variam de acordo com a etnia
do defunto e com cada tradição religiosa, mas as músicas e danças são elementos
necessários, além de um momento de vigília e oração.
Mesmo
que seja aparentemente festivo, ou foi clórico, o funeral de matriz africana
não exprime a alegria pela morte de um membro da comunidade, mas é uma
tentativa de transformar a dor e o sofrimento pela perda, em gestos de amizade
e afeto que acompanham o defunto. O morto "impuro e perigoso" é
transformado em ancestral protetor e reverenciado. A morte é transformada em
vida.
Na
tradição animista africana prevalece o culto a três grandes divindades: o firmamento,
a terra e os ancestrais.
Na vida
cotidiana, o elemento primordial é o culto aos ancestrais. Eles habitam urn
mundo misterioso, chamado de "Aldeia da verdade", que se contrapõe à
"Aldeia da terra e das aparências", lugar onde as pessoas vivem na
mentira e se enganam mutuamente.
Na vida
do Além, os ancestrais estão bem unidos e a Aldeia da verdade é um lugar em que
é forte o verdadeiro espírito de família, local de onde brota a vida.
Os
nativos dessa tradição religiosa acreditam que os ancestrais estão presentes
nas aldeias e que se comunicam continuamente com eles, podendo ser convocados
em caso de necessidade.
Após a partida de um defunto, sempre fica
sobre a aldeia certa inquietude e as pessoas se perguntam sobre aquilo que o
morto irá dizer aos ancestrais. Se, depois de um funeral, houver uma série de
mortes, todos irão se referir à vingança dos ancestrais. Se o falecido faz um
excelente "relatório" aos ancestrais, a felicidade, saúde e harmonia
reinarão entre os vivos da aldeia.
A morte nas religiões
afro-brasileiras
Os
iorubás, um dos maiores grupos étnicos da África ocidental, e outros grupos
africanos que formaram a base cultural das religiões afro-brasileiras, acreditam
que a vida e a morte alternam-se em ciclos. Assim, o morto volta ao mundo dos
vivos, reencarnando-se em um novo membro da própria família. São muitos os
nomes iorubás que exprimem exatamente esse retorno, como babatundê, que quer dizer "O pai está de volta".
O aiê e o orum
Para os iorubás, existe o mundo dos vivos, o aiê,
e um mundo sobrenatural, o orum, onde
estão os orixás, outras divindades e espíritos. Quando alguém morre, seu
espírito ou parte dele vai para o orum, de
onde pode retornar ao aiê,
nascendo de novo. Não há julgamento após a morte e os espíritos retornam à vida
quando podem, pois o mundo ideal é o dos vivos, o bom é viver.
O egungum
O papel
do egungum, espírito ancestral de uma pessoa importante no controle da
moralidade do grupo e na manutenção do equilíbrio social através da solução de
pendências e disputas pessoais, infelizmente, não se reproduziu no Brasil. Embora
o culto ao egungum tenha sido reconstituído em poucos terreiros
especializados da Bahia, ele está muito distante da prática diária dos
candomblés de orixás, perdendo as funções sociais africanas originais e se
desenvolvendo em maneira estritamente ritual.
Proposta de atividade: A
morte de qualquer membro do Candomblé implica na realização de rituais
fúnebres chamados
Asèsè, cuja finalidade é desfazer o assentamento do Ori, primeiro Orixá a ser louvado, e os vínculos com o orixá
pessoal. Na tabela abaixo, seis orixás participam do Asèsè. Professor, convide os alunos a completá-la,
identificando qual a função de cada divindade.
Oyá
|
|
Nanã
|
|
Omolu
|
|
Ogum
|
|
Osumaré
|
|
Yewá
|
|
Fontes: Revista Mundo e Missão, 2004.
Artigo disponível em: http://migre.me/c88J9. BAMGBOSE OBITICÔ, Blog
dedicado à família de grande tradição em nosso culto Afro-Descendente.
Disponível em: http://migre.me/c88Rx.
Jornal O transcendente
Nenhum comentário:
Postar um comentário