O texto que segue sobre
tecnologia africana foi escrito pensando no ensino de história e cultura
africana e nas formulações dadas ao racismo antinegro na sociedade
brasileira.
No Brasil muitas pessoas negam a existência de
racismo contra a população negra, primeiro por serem pessoas que se
beneficiam deste racismo. Portanto, tem as suas conveniências e negar a
sua existência é uma maneira de disfarçar os propósitos de manter a população
negra numa situação subalterna. Os membros dos grupos sociais subalternos trabalham
muito, recebem pouco e obedecem bastante para sobreviverem. Os problemas do
racismo contra a população negra são problemas sociais e econômicos da
sociedade brasileira no campo da dominação dos grupos subalternos.
Terminado o escravismo criminoso, uma forma de deixar a população negra em
condições de vida subalterna foi produzir um grande processo de
desqualificação social das negras e negros.
As profissões que eram de domínio da população
negra foram transferidas para outras populações ao longo do século. Vejam,
não se trata de um problema de "raça" no sentido da "raça
biológica", pois a ciência mesmo tem demonstrado não existirem raças.
Trata-se de um problema dos mercados de trabalho, das posições sociais entre
os grupos sociais e um problema político de quem manda e de quem tem que
obedecerpor imposições sociais. Mas é um problema que não é individual
e sim coletivo. não basta ter uma negra ou um negro presente para
não existir racismo. Para não existir racismo o acesso tem que ser coletivo
e livre das ideologias racistas.
A maioria das pessoas partem de uma definição do
racismo genérica e pouco útil para compreensão da sociedade brasileira.
Pensam o racismo como o ódio entre as raças, mas não é isto o que ocorre
no Brasil e sim a forma de controle social entre grupos sociais. o racismo
brasileiro executa um longo e fortíssimo trabalho de manutenção das
estruturas sociais. Exclui o coletivo de uma participação ampla na sociedade
brasileira por formas práticas e não diretamente declaradas. Uma das
formas é produzindo ideias ambíguas, erradas ou preconceituosas sobre a
populaçãonegra. ideias que muitas vezes nós mesmos negros não percebemos o
que está por detrás delas e as admitimos como verdade.
Vejam como são as coisas: o meu professor de
filosofia na faculdade era marxista, socialista e democrático. no entanto
ele dizia que somente os gregos faziam filosofia. ou seja, somente os
gregos trabalhavam com a racionalidade científica. isto induz a ideia de
que os africanos não teriam filosofia e de que também não teriam produzido
pensamentos dentro da racionalidade científica. deduziríamos que estariam
atrasados com relação aos europeus. isto produz ideias racistas que
desqualificam socialmente os africanos para a produção do pensamento filosófico.
No entanto existe filosofia africana, existem muitos filósofos que
são africanos e aparecem na história como gregos somente pelo fato
da Grécia ter mantido estas regiões do norte africano como colônias
durante um período da história. a lógica racional levaria a pensar que
existe filosofia em todos os povos, e que na filosofia ocidental existe
tanto de africano como de grego. Mas esta afirmação será sempre
contestada pelos pensadores eurocêntricos, pois pensar os gregos como os
empreendedores da filosofia qualifica socialmente os europeus como povos
historicamente racionais. Isto é uma faceta do racismo eurocêntrico do
qual mesmo negras e negros filósofos participam.
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