A ciência e a tecnologia são
campos do conhecimento utilizados, na compreensão e manejo do ambiente que nos
cerca, podemos depreender que todos os povos, em seus mais remotos momentos
históricos, foram dotados de conhecimento científico e tecnológico para atender
aos níveis de complexidade de suas sociedades. O desenvolvimento das nações
deve-se, principalmente, às particularidades dos seus processos históricos e
culturais. Isso não está relacionado com maior ou menor grau de inteligência ou
aptidão de certos agrupamentos humanos. É interessante enfatizar essa questão
para dissiparmos teorias racistas a respeito da suposta inferioridade de
determinados grupos humanos em relação a outros no que se refere à capacidade
cognitiva para empreender o desenvolvimento em suas sociedades.
No ano de 1758, o botânico sueco
Carolus Linnaeus - o responsável pela criação do atual sistema de classificação
dos seres vivos - deu à humanidade o nome científico de Homo sapiens e a
classificou em quatro subespécies: os vermelhos americanos, “geniosos,
despreocupados e livres”; os amarelos asiáticos, “severos e ambiciosos”; os
negros africanos, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos europeus,
evidentemente, “ativos, inteligentes e engenhosos” .
Em 1855 - Arthur Gobineau
escreveu o Ensaio Sobre a Desigualdade da Raça Humana, que é tido como a bíblia
do racismo moderno, e que considera que a miscigenação é a causa da decadência
das nações. No Brasil, o médico Raimundo Nina Rodrigues foi discípulo de
Gobineau, e considerava, por exemplo, que os rituais de candomblé eram uma
patologia dos negros.
Esses trabalhos acadêmicos
demonstram o papel social da ciência, enquanto instrumento de legitimação de
políticas racistas que ajudaram a consolidar uma sociedade que cultua uma
hierarquização racial e que, no Brasil, adicionado à teoria da democracia
racial de Gilberto Freyre, contribuiu para a manutenção do atual quadro de
desigualdades raciais.
Apesar dessas teorias terem
perdido suas validades científicas, elas continuam tendo um fortíssimo efeito
na sociedade, a ponto de criar modelos mentais que identificam os negros e
índios como seres inferiores, os quais foram “resgatados pelo pioneirismo do
descobrimento e a benevolência das campanhas religiosas dos europeus
portugueses”.
Ao discutir “As contribuições dos
povos africanos e da diáspora para o conhecimento científico e tecnológico
universal”, faremos uma exposição em torno de algumas das principais conquistas
científicas e tecnológicas dos africanos e afro-brasileiros. Disponibilizar
algumas informações que ajudem na reflexão a respeito do papel dos povos
africanos e da diáspora no contexto do desenvolvimento local (Brasil) e global
da Humanidade, entendendo que isso será fundamental para que os jovens
estudantes e professores, leitores desse texto, passem a ter uma imagem
positiva e mais verdadeira em relação à população negra. Segmento populacional
majoritário em estados como a Bahia e que corresponde a cerca de 50,3% da
população brasileira.
SABER TECNOLÓGICO DOS POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA
Medicina
O Egito possuía uma ciência
médica e farmacológica sistematizada e muito desenvolvida, cujas recentes
descobertas mostram que os cientistas egípcios tiveram a capacidade de promover
cirurgias complexas como as cerebrais, de catarata ou o engessamento de membros
com ossos quebrados, conhecer substâncias cicatrizantes e anestésicos. O avanço
da medicina foi impulsionado, principalmente, pelo desenvolvimento da técnica
de mumificação que consistia em um conjunto de procedimentos químicos e físicos
visando a preservação dos corpos.
Outra característica da medicina
desenvolvida pelos egípcios foi a especialização que possibilitou o desenvolvimento,
por exemplo, da odontologia que naquela época, já usava brocas e praticava os
procedimentos de colocação de próteses e drenagem de abscessos. Os métodos
contraceptivos também já eram do conhecimento dos egípcios.
ASTRONOMIA
Nesse campo do conhecimento é interessante
citar as contribuições dos antigos africanos da nação Dogon, situados na região
do antigo Mali. Eles já tinham conhecimento da existência de um pequenino
satélite da estrela Sirius, que era visível a olho nu. Eles eram conhecedores
de oitenta e seis elementos fundamentais, da astronomia, reproduzindo assim a
sua trajetória em desenhos que conferem precisamente com a órbita observada
pela astronomia moderna.
O calendário egípcio foi estudado
e reconhecido pelos astrônomos gregos, tendo se tornado o calendário base da
astronomia por muito tempo.
ARQUITETURA
Obra de engenharia bastante
impressionante pelos seus recursos tecnológicos são as ruínas da muralha do
complexo urbano do Grande Zimbábue. Nessa monumental construção as pedras são
colocadas uma em cima da outra, sem cimento, de forma semelhante às construções
dos sítios históricos do Peru (Macchu Picchu e Cuzco).
MATEMÁTICA
A construção das pirâmides do
antigo Egito também é um exemplo da grande contribuição dada pelos povos
africanos à engenharia e à arquitetura. A matemática envolvida nessas
construções é realmente impressionante. O uso de coordenadas retangulares para
desenhar curvas e a precisão de até 0,07º aplicada no traçado de ângulos
demonstra o avançado estágio da matemática nesse país africano.
NAVEGAÇÃO –
A Navegação também foi um ponto
forte do legado dos povos africanos. No Egito, a tecnologia naval era
suficientemente desenvolvida a ponto de terem realizado a circunavegação da
África cerca de 2000 anos antes do suposto pioneirismo dos portugueses.
SABER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
DOS AFROBRASILEIROS
OS AFRICANOS NO BRASIL
Ao chegar ao Brasil, os africanos
foram inseridos como seres sem passado e tiveram a sua condição humana negada.
Considerando o aspecto emocional no desempenho cognitivo, o que dizer das
condições dadas aos africanos e afro-descendentes para produzir conhecimento no
contexto da sociedade escravocrata brasileira. O determinismo histórico não se
confirmou e em meio à sociedade escravocrata e pós-abolicionista emergem
personagens afro-brasileiros que deram contribuições importantíssima para o
desenvolvimento para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil. Os
engenheiros André Rebouças e Teodoro Sampaio e o Médico Juliano Moreira
representam bem a superação desses afro-brasileiros.
ANDRÉ REBOUÇAS: Construção
pioneira de docas no Rio de Janeiro, Bahia em Pernambuco e Maranhão. Implantou
o sistema de abaste Cimento de água do Rio.
JULIANO MOREIRA Nascido em
Salvador em 1873, ele foi uma grande referência da medicina brasileira.
Formou-se em medicina e cirurgia em 1891. No Rio de Janeiro, Foi nomeado Diretor
do Hospital Nacional de Alienados. Com seus esforços junto ao Ministério do
interior conseguiu a aprovação de uma lei de Assistência aos doentes mentais,
pesquisou sobre Doença endêmica crônica e foi nomeado Diretor Geral da
assistência a psicopatas no Rio de Janeiro, onde permaneceu por vinte e oito
anos.
MULHERES NEGRAS
MULHERES AFRICANAS
Três grandes mulheres africanas
se destacaram na ciência. Segundo o astrônomo Ronaldo Mourão (2007), a primeira
mulher africana de que se tem noticia na ciência é uma egípcia chamada Aganike
(cerca de 1878 a.C.), reconhecida pelo seus talentos como filósofa e
astrônoma durante o reinado de seu pai Sésostris (século XIX a.C.).
Hipácia Considerada a última
grande cabeça a freqüentar a biblioteca de Alexandria. Hipácia que nasceu no
Egito por volta de 470 a.C., no continente Africano. Estudou astronomia,
matemática e filosofia; provavelmente influenciada por seu pai o astrônomo
egípcio Theon.
EXEMPLOS DE CIENTISTAS AFRICANOS:
Garrett Augustus Morgan (1877-1963) - Inventor da máscara anti-gás, em 1921, e
do semáforo, patenteado em 1923. Lewis Latimer - trabalhou com Thomas Edison e
Alexander Graham Bell desenhando o projeto do primeiro telefone de Bell e foi
consultor de Thomas Edison no projeto da lâmpada elétrica.
Mark Dean - Ph.D. da Stanford
University, projetou o computador pessoal e liderou a equipe que criou o
processador de 1 GHz.
Patricia E. Bath - inventou a
técnica da cirurgia de olho a laser.
Frederick Jones - em 1935,
inventou o primeiro sistema de refrigeração para caminhões, que depois foi
adaptado para outros automóveis.
J.W. Smith - inventou um
dispositivo para molhar jardins, o aspersor.
Lewis Howard Latimer - inventou o
filamento de dentro da lâmpada elétrica. Dr. Daniel Hale Williams - executou a
primeira cirurgia aberta de coração.
Lloyd Quarteman – Físico, na
equipe científica desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930 e
iniciou a era atômica no mundo.
Roberto E. Shurney – Físico que
desenvolveu os pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV que tocou
a superfície da lua em 1972.
Percy L. Julian – Químico, abriu o caminho
para o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma com seus
experimentos em 1933.
As contribuições dos povos africanos e afro-brasileiros para o mundo,
não se resume apenas em relação aos elementos culturais, como culinária, dança,
música e linguagem. Destacamos o a sua capacidade intelectual para o
estabelecimento e sustentação técnica e econômica para o mundo e à sociedade
brasileira.
Referência: CUNHA, Lázaro. Contribuição dos Povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal. Disponível no site: www.smec.salvador.ba.gov.br
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