domingo, 4 de novembro de 2012

HISTÓRICO DA PRESENÇA DOS POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO UNIVERSAL


A ciência e a tecnologia são campos do conhecimento utilizados, na compreensão e manejo do ambiente que nos cerca, podemos depreender que todos os povos, em seus mais remotos momentos históricos, foram dotados de conhecimento científico e tecnológico para atender aos níveis de complexidade de suas sociedades. O desenvolvimento das nações deve-se, principalmente, às particularidades dos seus processos históricos e culturais. Isso não está relacionado com maior ou menor grau de inteligência ou aptidão de certos agrupamentos humanos. É interessante enfatizar essa questão para dissiparmos teorias racistas a respeito da suposta inferioridade de determinados grupos humanos em relação a outros no que se refere à capacidade cognitiva para empreender o desenvolvimento em suas sociedades.
No ano de 1758, o botânico sueco Carolus Linnaeus - o responsável pela criação do atual sistema de classificação dos seres vivos - deu à humanidade o nome científico de Homo sapiens e a classificou em quatro subespécies: os vermelhos americanos, “geniosos, despreocupados e livres”; os amarelos asiáticos, “severos e ambiciosos”; os negros africanos, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos europeus, evidentemente, “ativos, inteligentes e engenhosos” .
Em 1855 - Arthur Gobineau escreveu o Ensaio Sobre a Desigualdade da Raça Humana, que é tido como a bíblia do racismo moderno, e que considera que a miscigenação é a causa da decadência das nações. No Brasil, o médico Raimundo Nina Rodrigues foi discípulo de Gobineau, e considerava, por exemplo, que os rituais de candomblé eram uma patologia dos negros.
Esses trabalhos acadêmicos demonstram o papel social da ciência, enquanto instrumento de legitimação de políticas racistas que ajudaram a consolidar uma sociedade que cultua uma hierarquização racial e que, no Brasil, adicionado à teoria da democracia racial de Gilberto Freyre, contribuiu para a manutenção do atual quadro de desigualdades raciais.
Apesar dessas teorias terem perdido suas validades científicas, elas continuam tendo um fortíssimo efeito na sociedade, a ponto de criar modelos mentais que identificam os negros e índios como seres inferiores, os quais foram “resgatados pelo pioneirismo do descobrimento e a benevolência das campanhas religiosas dos europeus portugueses”.
Ao discutir “As contribuições dos povos africanos e da diáspora para o conhecimento científico e tecnológico universal”, faremos uma exposição em torno de algumas das principais conquistas científicas e tecnológicas dos africanos e afro-brasileiros. Disponibilizar algumas informações que ajudem na reflexão a respeito do papel dos povos africanos e da diáspora no contexto do desenvolvimento local (Brasil) e global da Humanidade, entendendo que isso será fundamental para que os jovens estudantes e professores, leitores desse texto, passem a ter uma imagem positiva e mais verdadeira em relação à população negra. Segmento populacional majoritário em estados como a Bahia e que corresponde a cerca de 50,3% da população brasileira.
SABER TECNOLÓGICO  DOS  POVOS AFRICANOS E  DA DIÁSPORA
Medicina
O Egito possuía uma ciência médica e farmacológica sistematizada e muito desenvolvida, cujas recentes descobertas mostram que os cientistas egípcios tiveram a capacidade de promover cirurgias complexas como as cerebrais, de catarata ou o engessamento de membros com ossos quebrados, conhecer substâncias cicatrizantes e anestésicos. O avanço da medicina foi impulsionado, principalmente, pelo desenvolvimento da técnica de mumificação que consistia em um conjunto de procedimentos químicos e físicos visando a preservação dos corpos.


Outra característica da medicina desenvolvida pelos egípcios foi a especialização que possibilitou o desenvolvimento, por exemplo, da odontologia que naquela época, já usava brocas e praticava os procedimentos de colocação de próteses e drenagem de abscessos. Os métodos contraceptivos também já eram do conhecimento dos egípcios.
 ASTRONOMIA
 Nesse campo do conhecimento é interessante citar as contribuições dos antigos africanos da nação Dogon, situados na região do antigo Mali. Eles já tinham conhecimento da existência de um pequenino satélite da estrela Sirius, que era visível a olho nu. Eles eram conhecedores de oitenta e seis elementos fundamentais, da astronomia, reproduzindo assim a sua trajetória em desenhos que conferem precisamente com a órbita observada pela astronomia moderna.
O calendário egípcio foi estudado e reconhecido pelos astrônomos gregos, tendo se tornado o calendário base da astronomia por  muito tempo.
ARQUITETURA
Obra de engenharia bastante impressionante pelos seus recursos tecnológicos são as ruínas da muralha do complexo urbano do Grande Zimbábue. Nessa monumental construção as pedras são colocadas uma em cima da outra, sem cimento, de forma semelhante às construções dos sítios históricos do Peru (Macchu Picchu e Cuzco).

MATEMÁTICA
A construção das pirâmides do antigo Egito também é um exemplo da grande contribuição dada pelos povos africanos à engenharia e à arquitetura. A matemática envolvida nessas construções é realmente impressionante. O uso de coordenadas retangulares para desenhar curvas e a precisão de até 0,07º aplicada no traçado de ângulos demonstra o avançado estágio da matemática nesse país africano.

NAVEGAÇÃO –
A Navegação também foi um ponto forte do legado dos povos africanos. No Egito, a tecnologia naval era suficientemente desenvolvida a ponto de terem realizado a circunavegação da África cerca de 2000 anos antes do suposto pioneirismo dos portugueses.
SABER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DOS  AFROBRASILEIROS
OS AFRICANOS NO BRASIL
Ao chegar ao Brasil, os africanos foram inseridos como seres sem passado e tiveram a sua condição humana negada. Considerando o aspecto emocional no desempenho cognitivo, o que dizer das condições dadas aos africanos e afro-descendentes para produzir conhecimento no contexto da sociedade escravocrata brasileira. O determinismo histórico não se confirmou e em meio à sociedade escravocrata e pós-abolicionista emergem personagens afro-brasileiros que deram contribuições importantíssima para o desenvolvimento para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil. Os engenheiros André Rebouças e Teodoro Sampaio e o Médico Juliano Moreira representam bem a superação desses afro-brasileiros.
ANDRÉ REBOUÇAS: Construção pioneira de docas no Rio de Janeiro, Bahia em Pernambuco e Maranhão. Implantou o sistema de abaste Cimento de água do Rio.

JULIANO MOREIRA Nascido em Salvador em 1873, ele foi uma grande referência da medicina brasileira. Formou-se em medicina e cirurgia em 1891. No Rio de Janeiro, Foi nomeado Diretor do Hospital Nacional de Alienados. Com seus esforços junto ao Ministério do interior conseguiu a aprovação de uma lei de Assistência aos doentes mentais, pesquisou sobre Doença endêmica crônica e foi nomeado Diretor Geral da assistência a psicopatas no Rio de Janeiro, onde permaneceu por vinte e oito anos.
MULHERES NEGRAS
MULHERES AFRICANAS
Três grandes mulheres africanas se destacaram na ciência. Segundo o astrônomo Ronaldo Mourão (2007), a primeira mulher africana de que se tem noticia na ciência é uma egípcia chamada Aganike (cerca de 1878 a.C.), reconhecida pelo seus talentos como filósofa  e astrônoma durante o reinado de seu pai Sésostris (século XIX a.C.).
Hipácia Considerada a última grande cabeça a freqüentar a biblioteca de Alexandria. Hipácia que nasceu no Egito por volta de 470 a.C., no continente Africano. Estudou astronomia, matemática e filosofia; provavelmente influenciada por seu pai o astrônomo egípcio Theon.
EXEMPLOS DE CIENTISTAS AFRICANOS: Garrett Augustus Morgan (1877-1963) - Inventor da máscara anti-gás, em 1921, e do semáforo, patenteado em 1923. Lewis Latimer - trabalhou com Thomas Edison e Alexander Graham Bell desenhando o projeto do primeiro telefone de Bell e foi consultor de Thomas Edison no projeto da lâmpada elétrica.
Mark Dean - Ph.D. da Stanford University, projetou o computador pessoal e liderou a equipe que criou o processador de 1 GHz.
Patricia E. Bath - inventou a técnica da cirurgia de olho a laser.
Frederick Jones - em 1935, inventou o primeiro sistema de refrigeração para caminhões, que depois foi adaptado para outros automóveis.
J.W. Smith - inventou um dispositivo para molhar jardins, o aspersor.
Lewis Howard Latimer - inventou o filamento de dentro da lâmpada elétrica. Dr. Daniel Hale Williams - executou a primeira cirurgia aberta de coração.
Lloyd Quarteman – Físico, na equipe científica desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930 e iniciou a era atômica no mundo.
Roberto E. Shurney – Físico que desenvolveu os pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV que tocou a superfície da lua em 1972.
 Percy L. Julian – Químico, abriu o caminho para o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma com seus experimentos em 1933.
As contribuições dos povos africanos e afro-brasileiros para o mundo, não se resume apenas em relação aos elementos culturais, como culinária, dança, música e linguagem. Destacamos o a sua capacidade intelectual para o estabelecimento e sustentação técnica e econômica para o mundo e à sociedade brasileira.

Referência: CUNHA, Lázaro. Contribuição dos Povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal. Disponível no site: www.smec.salvador.ba.gov.br

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