sábado, 10 de novembro de 2012

CONTOS AFRICANOS



Na cultura africana a  palavra é vida, é ação, é jeito de aprender e ensinar. A tradição de contar e vivenciar histórias míticas, consideradas práticas educacionais que chamam a atenção para princípios e valores, para o autoconhecimento, socialização de saberes e convivência comunitária.
Segundo Vanda Machado, “contar mitos, em muitos lugares da África, faz parte do jeito de educar a criança que, mesmo antes de ir a escola, aprende as histórias de sua comunidade, os acontecimentos passados, valorizando-os como novidade. A matriz cultural enfatizam :
• O autoconhecimento.
• Preservação dos fazeres e saberes, costumes e histórias das comunidades.
• Manutenção da família, enquanto instituição básica da sociedade.

A literatura oral africana tem vários papéis, dentre eles, o educativo, o recreativo e o da preservação cultural.
As narrativas africanas não podem ser facilmente separadas como contos, fábulas ou lendas, pois nos trazem um entrelaçamento de todas essas formas.
Vamos encontrar na África:
• Os Griots e as Griotes, pessoas que têm o ofício de guardar e ensinar a memória cultural na comunidade.
• O Doma, conhecedor de todas as histórias, guardião dos segredos da gênese cósmica e das ciências da vida e mestre de si mesmo.

CARACTERÍSTICAS

• Animalização da natureza
• Atribuem aos animais às propriedades que são exclusivamente dos seres humanos, a fala.
• Descrevem a forma como qualquer coisa foi criada: seres humanos, o mundo, os animais, as relações entre os homens.
• Trazem sempre uma lição de ética ou moral.

OBJETIVOS
Os objetivos de se trabalhar com contos africanos com os/as alunos/as são:
• Valorizar a leitura com fonte de formação, informação e  acesso ao mundo da literatura africana.
• Interagir com a literatura africana em um ambiente escolar onde ainda reinam personagens brancas como padrão de representação literária, modelo ocidental eurocêntrico.
• Contribuir, em sentido amplo, para a promoção da igualdade das relações étnicoraciais na escola e fora dela.
• Valorizar a identidade do sujeito afro-descendente, permitindo-lhe a condição de ser, pertencer e participar de seu grupo étnico, reconhecendo valores da sua comunidade.

A GAZELA E O CARACOL

Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.
Comentário do narrador : «Como tu sabes escrever e nós não, nós cansamo-nos mas tu não. Nós nada sabemos!».

Eduardo Medeiros (org.). Contos populares moçambicanos, 1997.

TODOS DEPENDEM DA BOCA...

Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante?
Os olhos responderam:
__ O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos __ disseram os ouvidos.
__ Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
__ Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga.
__ Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos.
Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar.
Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__ Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
__ És tu boca, responderam todos em coro. Tu és o nosso rei!

Nota: todos nós somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros..."Eu
conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio Gomes,
1999http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto5.html


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