(Conto IORUBÁ da
Nigéria e de outros países da África Ocidental)
Quando
ainda não existia nada como conhecemos hoje, havia apenas uma grande extensão
de céu e uma enorme extensão de mar. Olorum era o rei e deus do céu e Olocum era
a rainha e deusa do mar. Os dois reinos estavam totalmente separados e nunca
houvera nenhum conflito entre as duas divindades. Olorum estava satisfeito com
seu reino e quase nunca sabia de nada do que acontecia abaixo do céu. Olocum
também estava contente com seu reino, embora ali não houvesse estava contente
com seu reino, embora ali não houvesse vegetação nem criatura de espécie
alguma.
Mas
o jovem aprendiz de deus Obatalá, que não concordava muito com essa divisão,
olhou para baixo lá de cima do céu e disse a si mesmo:
-
O reino que temos abaixo de nós tem um aspecto deplorável. É preciso fazer
alguma coisa para melhorá-lo! Se pelo menos houvesse montanhas e bosques para
dar-lhe outro aspecto e um pouco mais de cor!
Foi
assim que Obatalá decidiu ir ver seu rei Olorum para explicar-lhe sua idéia.
-
Preciso admitir que você tem razão. As montanhas e os vales que você descreve
seriam muito melhores que essa mancha cinza imensa que temos lá em baixo. Mas quem vai
criar esse novo mundo? E de que jeito? – disse Olorum.
-
Se você deixar, eu mesmo vou tentar – respondeu Obatalá, com voz segura.
-
Está bem. Tem minha permissão. Mas antes você terá que ir ver meu filho
Orunmilá. Você já sabe que ele tem o poder de prever acontecimentos futuros e
de encontrar soluções.
No
dia seguinte, Obatalá foi ver o filho de Olorum. Depois de fazer seu ritual de
adivinhação, Orunmilá disse:
-
Você precisa encontrar uma corrente de ouro tão comprida que lhe permita descer
do céu até as águas do reino que temos embaixo. Ao descer, tem que levar junto
um caracol cheio de areia, uma galinha branca, um gato preto e uma tâmara. É
tudo o que você necessita para conseguir seu intento.
Obatalá
ouviu-o atentamente. A primeira coisa que fez foi ir ver um ferreiro para
encomendar-lhe a corrente de ouro. Mas acontece que ele não tinha ouro
suficiente. Assim, teve que visitar todos os deuses do reino de Olorum para
pedir que lhe dessem ouro para fabricar a corrente mais comprida possível.
Quando a corrente ficou pronta, Orunmilá deu um saco a Obatalá. Dentro dele
havia tudo de que ele precisava: o caracol cheio de areia, a galinha branca, o
gato preto e a tâmara. O jovem deus amarrou o saco nas costas e começou a
descer pela corrente até as águas. Descia e descia lentamente, sentindo a
umidade que subia das águas. Até que a corrente acabou..., mas ele ainda estava
alto demais para pular! De repente, ouviu a voz de Orunmilá, que lhe ditava o
que devia fazer:
-
Pegue o caracol que você tem dentro do saco e jogue toda a areia na água!
Obatalá
fez o que lhe dizia Orunmilá.
-
Agora jogue a galinha – gritou Orunmilá.
Obatalá
pegou a galinha do saco e a jogou nas águas. A galinha fio cair onde havia
caído antes a areia. Tentava caminhar por cima das águas para não se afogar, e
os grãos de areia iam se transformando em terra firme e seca. Os grãos maiores
se convertiam em montes e, entre os montes, apareciam vales. Obatalá decidiu
que já podia pular da corrente. Caiu sobre a terra e andou todo sorridente.
Agora havia terra em todas as direções. NO lugar onde caiu ao saltar da
corrente, ou seja, no primeiro pedaço de terra pisou, ele abriu um buraco com
as mãos e plantou a tâmara. Imediatamente a tâmara se transformou numa palmeira
e um pouco adiante apareceu outra, e outra, e mais uma... Com alguns troncos de
palmeira caídos e algumas folhas, Obatalá construiu uma cabana e ali viveu
feliz em companhia do gato preto.
A
deusa Olocum estivera observando todo o processo de criação daquele novo reino
entre o céu e o mar e achou que estava bom. E desde aquele instante Obatalá se
converteu no deus e rei da terra. E tudo começou a ser tal como conhecemos
hoje.
Livro
– O Príncipe medroso e outros contos africanos
Autora
– Ann Soler-Pont
Nenhum comentário:
Postar um comentário