Uma gazela encontrou um
caracol e disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de
correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis
e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol",
tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os
papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para
que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à
povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se
escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou,
disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e
tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto,
deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia
chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que
respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por
causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por
se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à
esperteza de ter escrito cem papéis.
Eduardo Medeiros (org.).
Contos populares moçambicanos, 1997
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