Os jabutis, contam os mais velhos, sempre foram
respeitados por sua sabedoria e prudência. Mas por causa da ganância de um
deles, todos os parentes passaram a ter o casco rachado.
Há muito tempo, um jabuti soube que uma grande
festa estava sendo organizada pelas aves que viviam voando entre os galhos das
florestas.
- Eu também quero ir – disse ele tirando a
cabecinha para fora do casco.
- Mas a festa vai ser no céu – explicou um
papagaio. – Como é que você vai voar até lá?
O jabuti ficou com uma cara tão triste, que os
pássaros com dó dele resolveram ajudá-lo.
- Olhe, nos vamos emprestar algumas de nossas penas
para você.
E assim foi feito, a passarinhada, com pedacinhos
de cordas, amarrou plumas coloridas nas patas dianteiras e traseiras do jabuti.
- Pronto! Agora você já pode voar – comemoraram os
pássaros. – Mas tem outra coisa. Nessa festa cada um tem de usar um nome
diferente. Qual vai ser o seu?
O jabuti, astucioso, depois de pensar um pouco
disse:
- Pra todos.
Na manhã seguinte, quando os galos começaram a
cantar, os convidados já estavam acordados, prontos para partir rumo à festa.
Só que a viagem levou mais tempo do que eles
pensavam, pois o jabuti não sabia voar direito e atrasou todo mundo.
Para decolar foi um custo. Os céus da África nunca
tinham visto um ser voador tão desajeitado como aquele jabuti de asas
reluzentes.
- Que lindo! – gritava o jabuti, deslumbrado com a
visão dos cafezais e algodoais que ia desfrutando do alto.
O ar era tão claro que dava para o jabuti avistar
os picos das montanhas ao longe, cobertos de neve.
- Olhe o tamanho daquele rio! – exclamava,
apontando para o magestoso Nilo Branco.
Por isso, quando alcançaram o céu, a festa já tinha
começado.
Uma mesa enorme para o café da manhã, coberta de
frutas, aguardava havia tempo os retardatários.
A passarada, de acordo com os velhos costumes,
perguntou:
- Para quem a comida vai ser servida primeiro?
A dona da festa, uma água imponente, foi quem
respondeu:
- Pra todos.
- Então é pra mim – disse o jabuti, avançando nas
guloseimas, enquanto os pássaros observavam, sem poder fazer nada.
A festa continuou animada até a hora do almoço. E
novamente a cena se repetiu:
- Para quem é o almoço? – perguntaram os pássaros.
- Pra todos, disse a anfitriã.
O jabuti, sem perder tempo, comeu tudo outra vez.
Na hora do jantar foi a mesma coisa. O bando de
aves, esfomeado, resolveu ir embora. Mas, primeiro, exigiu que o jabuti
devolvesse as penas que haviam emprestado a ele.
- Entregue tudo – disseram os passarinhos.
Arrancando as plumas em torno das patas do jabuti.
Antes que os pássaros voassem de volta à floresta,
o jabuti fez um pedido:
- Por favor, passem na minha casa e peçam para a
minha mãe colocar um monte de capim em frente à nossa porta – implorou.
- Para quê?
- Para eu não me machucar quando pular do céu –
disse o espertalhão.
Os pássaros, zangados, quando chegaram à terra
deram um recado errado à mãe do jabuti:
- O seu filho pediu para a senhora colocar umas
pedras bem grandes na entrada da casa.
Resultado: o jabuti esborrachou-se contra os
pedregulhos. Por sorte não morreu. A mãe dele é que teve um trabalho danado
para remendar os pedaços do casco todo arrebentado.
Por causa do tombo, os descentes do jabuti, além de
passarem a andar muito devagar, carregam esta couraça rachada até hoje.
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